Em brasa

Eu gosto de comida bem quente, de soltar a pele da boca
Gosto de coca-cola quase congelada
Pimenta? Malagueta. No óleo, por favor
Minhas fotos eu saturo no vermelho
Leite com café tem que ser fervendo
Queijo só se for derretendo
Água de piscina só da minha casa, é assim ou de cachoeira
Cama se não for macia de afundar tem que ser quase de pedra
Não gosto de meio termo
Não suporto o indefinido
Meu amor não é sereno
Não gosto de morno
Não gosto de talvez
Minha voz não é meio tom
Tenho pavor de “quase”
Meu beijo não é selinho
Gosto do limite entre o forte e o extremo
Minha salada tem muito limão
Meu perfume é muito doce
Meu culto é inteiro e constante
Adoro tempo muito frio
Odeio tempo muito quente
Agora odeio mesmo é o meio termo
Se vai me abraçar que seja forte
Ao me tocar seja firme
Se eu te chamar, venha, não pense
Não duvide quando eu falo
Não fale o que não quer fazer
Não tente fazer média comigo porque média pra mim não existe
Não seja medíocre
Quer? Mereça
Quero? Eu faço por merecer
Se eu amo é muito
Se eu odeio é muito
Não sei me dedicar de meio corpo
Não consigo só “curtir o momento”
Só sei fazer muito feliz ou muito triste
Só consigo soltar meu canto sendo inteiro
Só me prendo se sentir que sou livre pra me prender
Só estudo um dia antes da prova
Não me diga o que fazer. Me mostre
Seja abrigo , seja colo, seja cuidado
Mas nunca tente ser meu dono
Gosto da segurança
Preciso saber onde piso
Meu trabalho é sempre bem feito
Meu Deus é mais importante que eu
Meu quarto nunca está limpo o bastante
Eu nunca sou o bastante pra mim
Meu carro é vermelho, e não prata
Tenho um poodle toy e também um pitbull
Eu leio Clarice Lispector em mim
Eu canto Led Zepelin e Pato Fu
Sou feita de extremos
Me rendo a extremos
Me moldo, me fundo, completo o oposto
Mas odeio mesmo, é o tal do meio termo...