domingo, 29 de novembro de 2009

Perfeição fabricada


virtual
vir.tu.al
adj m+f (lat virtuale) 1 Que não existe como realidade, mas sim como potência ou faculdade. 2 Que equivale a outro, podendo fazer as vezes deste, em virtude ou atividade. 3 Que é suscetível de exercer-se embora não esteja em exercício; potencial. 4 Que não tem efeito atual. 5 Possível.


Algo que poderia ser, que não existe como realidade empírica, que existe no campo da possibilidade, e possibilidades, eu bem sei que geralmente permanecem assim pra sempre: Possibilidades.
Nesses últimos dias eu tenho avaliado muita coisa na minha vida, e uma delas é essa questão do virtual, mais exatamente o mundo virtual, a internet e a comodidade que ela proporciona no que diz respeito a relacionamentos. É muito mais fácil ser alguém, fazer algo, ter algo, no mundo virtual. É simples! É só dizer que é e automaticamente se é! É só parecer e num passe de mágica a coisa se “materializa” no mundo criado no virtual. Apesar de não ser o foco desse blog, vou dividir um pouco de algumas experiências minhas, mas só pra ilustrar a minha opinião.
A alguns anos atrás navegando por essa net sem fim, encontrei “o” cara. Gente! Ele era perfeito! Super inteligente, papo cativante, parecia me entender como ninguém, estava sempre ali pra mim, parecia devorar minhas palavras com uma fome de quem não se sacia, e realmente ele existia! Eu sei! Eu o via diariamente pela webcam respirando, comendo, lendo, rindo, brincando, estudando...a gente se falava pelo telefone, trocava cartas (a um tempo bem remoto, pessoas escreviam com canetas e enviavam folhas de papel pelo correio!) Era praticamente a coisa mais real já vivida até então apesar de eu já ter vivido outros relacionamentos com caras na mesma cidade, daqueles "tradicionais" de ir em casa todo dia e coisa e tal... e o envolvimento emocional foi inevitável, parecia ser até maior do que qualquer outro antes...e além de todas as qualidades acima descritas o dito cujo era absolutamente LINDO, praticamente um elfo. Paixão inevitável, idealizada, crescente, descabida, intensa como tudo tem de ser... A não ser pela distância. Eram boas centenas de quilômetros a enfrentar, o que tornou impossível o desfecho feliz dessa história. E na época, quando “acabou” tudo com um lapso de realidade que me deu do nada, eu sofri como se fosse um fim convencional, todas aquelas coisas que se vive num fim de namoro, todo o protocolo foi cumprido. Até que eu comecei a pensar sobre o assunto...
GENTE! Onde eu tava com a cabeça? Pelo amoooor de Deus, chorar por alguém que eu não sabia realmente como era? Que eu nunca olhei nos olhos a não ser pela webcam, nunca senti o cheiro a não ser pela camisa que ele mandou pelo correio, nunca senti o abraço... Comecei a me basear em mim mesma no mundo virtual e que me jogue a primeira pedra quem não comete pelo menos a maioria dos pecados virtuais que eu vou enumerar agora: A gente põe as melhores fotos nos melhores ângulos no perfil, usa as melhores frases pensadas no Nick do MSN, discute com um monte de amigos o que responder praquela pessoa e depois responde como se fosse a coisa mais natural do mundo, dizemos que estávamos ao telefone quando na verdade era uma puta dor de barriga infeliz, mas imagina! O que fulano vai pensar de mim se souber que eu me derreti no vaso? Ah, aquela banda que a fulana disse adorar foi objeto de pesquisa rapidíssima no Santo Google nosso de cada dia pra depois virar resposta quase que espontânea que causou tanto impacto e que rendeu mais uma conversa... Quem nunca ficou offline quando tava mal só pra não descontar na pessoa? Quando isso é possível na vida real? Desde quando isso é "ser você mesmo" ? E isso nem é por maldade, nem é calculado, é o comportamento natural e se você não age assim pelo menos um pouco, tem algum problema...
Eu não tô aqui pra radicalizar e dizer que um namoro virtual não pode dar certo, lógico que pode sim, mas eu só acredito neles quando começam ou coexistem com o cara a cara, quando os olhos podem ser lidos, as mãos tocadas, quando aquele silêncio constrangedor revela mais do que mil palavras, quando o abraço acelera tanto o coração quanto quando a pessoa te olha de longe... Eu acredito no virtual enquanto continuação, hiato, apoio, suporte, e mesmo assim não existem garantias (falo com conhecimento de causa!), mas definitivamente o tempo me mostrou que investir o que eu tenho de mais precioso que é o meu tempo e o meu coração em alguém criado, meticulosamente lapidado, com nuances falsas de perfeição retocadas pela extrema necessidade de se mostrar perfeito, é pra mim, o maior defeito já de antemão.
Eu há alguns anos atrás, se lesse esse texto, excomungaria até a quinta geração do famigerado recalcado que o escreveu, onde já se viu? O fulano? JAMAIS faria isso, ele é autentico, é sincero, só me mostra o que realmente é, é diferente de todas as outras pessoas que eu já conheci (esse é o argumento mais usado pelos que se prendem tanto nas suas utopias que lutam desesperadamente pra mantê-las vivas), ele não faria isso comigo... E realmente ele não o faz por mal, assim como EU não o faço por mal, é natural do ser humano querer esconder seu lado escuro até de si mesmo, e nem é condenável, chega a ser poeticamente belo alguém querer tanto ser perfeito pra mim que até valeria o risco... É, há alguns anos atrás talvez valesse, mas não hoje... O tempo me ensinou que abrir os olhos custa muito, mas vale mais do que mantê-los fechados por medo...
Definitivamente hoje mais do que nunca eu quero o sorriso, o abraço, o toque, o olhar, mesmo que seja por alguns instantes, mesmo que não seja todo dia nem toda semana nem todo mês... Quero a certeza de que vão existir ainda, pelo menos a certeza de que como aconteceu no começo de tudo, periodicamente vão acontecer pra que o coração não se perca no frio do virtual...

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