quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Medo



É até engraçado mas hoje decidi criar coragem e analisar o medo, essa coisa insana que nos acomete nas horas mais infelizes. Há os que o defendem como um alerta de perigo útil, como um limite do que se pode ou não fazer, até nos estimulam a conservar uma boa porção guardada no bolso por precaução. Eu, particularmente, venho sendo vítima do exagero desse devaneio desde que me entendo por gente. Quando criança eram os mais banais, e curiosamente nem sempre os mais comuns à maioria. Nunca tive medo de dentista como a maioria, até me divertia rindo das crianças mais velhas sendo arrastadas pra dentro do consultório (é, sempre fui meio sádica...). Medo de cachorro também nunca tive, me aventurava com qualquer canino sem nem perguntar antes e nunca levei uma mordida que fosse. Outra coisa comum é o medo do escuro, já eu não dormia no claro desde criança. Não tinha medo de bicho papão, não tinha medo de bruxas nem da loira do banheiro.
Assim fui crescendo e acho que a vida achando injusto eu passar por ela sem temer o trivial, foi me ensinando a ter medos completamente inexplicáveis.
Na adolescência o primeiro que apareceu foi o de barata. Pegava sapo e cobra na mão sem o menor pudor, mas uma barata me deixava em frenesí por horas (e assim continua até hoje!). Depois apareceu o medo mais normal que eu tenho, o de agulhas de injeção. Tá, isso todo mundo tem, e eu até que me sinto parte da sociedade tendo tal pavor. A adolescência chegou na sua metade e os medos começaram a ter outra dimensão, outros tipos de reação que eu desconhecia e foi aí eu acho que comecei a temer mais as reações que os próprios objetos causadores dos pavores sem sentido. Alguns medos se tornaram realidade no fim da adolescencia, perdi muito do que eu mais temia perder, lá no fim dos 19 perdi tudo que eu tinha e sonhei em ter até então, pra falar a verdade nunca me recuperei 100% dessa perda mas isso é assunto pra outros posts.
Já na vida adulta aí sim esse bandido me castigou... foi meu carrasco, meu carcereiro cruel. Me prendeu numa redoma de aço acolchoado olhando pela janela a vida acontecer. A vida dos outros é claro, porque a minha era sempre parada com medo de acontecer. Ah os milhões de "E SEs" que eu já disse, que eu já pensei, que eu já vivi... Quantas vidas eu deixei de viver com medo de não conseguir? Quantas lutas eu perdi antes de declarar a guerra? Nem contabilizei, tive medo de ver a resposta...
O medo nunca me guiou, pelo menos nunca por um caminho que me fosse realmente vantajoso. Eu até admito que o excesso de medo durante toda a minha vida me garantiu um certo conforto, um lugar seguro, um ninho. Mas esse mesmo ninho sempre foi minha prisão. Me vi tantas vezes frente a decisões quase já tomadas... Ah! Outra palavra que me persegue... o QUASE... Quase um emprego fora, quase uma faculdade diferente, quase alguns amores que aliás, são ao que me parece, as vítimas mais constantes do meu algoz. Meu lema? "Antes o ADEUS que o NÃO, mesmo havendo possibilidade do SIM." Arriscar? Jamais! O conforto da redoma de aço é mais convidativo.
Contemplar as possibilidades e os QUASES já são aventura demais. Aquela pós graduação fora do país? Pra quê? Sonhar com ela já supre as poucas necessidades de quem vive confortavelmente numa masmorra almofadada com tv a cabo e internet!
Quantas pessoas (sobre)vivem aprisionadas nesses cruéis porões escuros?
Sabe o que seria bom? Voltar lá na infância pra buscar aquela coragem que um dia se escondeu não sei onde, sair do quartinho de aço, pisar na lama, brincar na chuva da vida, correr de pé no chão no gramado do desconhecido, ficar resfriada às vezes, e daí? Furar o pé , levar picada de formiga, mas carregar marcas de quem um dia fez, quem um dia foi, cicatrizes que contam histórias interessantes, marcas que doeram um dia mas foram compensadas de alguma forma.
É, seria bom, seria tão bom... mas dá um medo.
Alguém liga o ventilador , tá muito quente esse quartinho... :)

2 comentários:

  1. "Sabe o que seria bom? Voltar lá na infância pra buscar aquela coragem que um dia se escondeu não sei onde"

    that's true....

    ResponderExcluir